quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Os 33 de lá e os bilhões de cá.


O Chile e o mundo não esquecerão. 33 vidas - ou melhor, subvidas - sob os nossos pés, aprisionadas por mais de 2 meses. Chegou ao fim!
Uma simples tampa de metal sobre a porta de entrada da esperança para estes mineiros simboliza o marco-zero de um acontecimento histórico não só para a mineração como, principalmente, para a humanidade.

Ao ver a cena do primeiro mineiro saindo da Fênix e, logo em seguida, abraçando sua família, tive apenas uma certeza: não sabemos, de fato, os limites do ser humano. A maioria das pessoas esperavam que aqueles rapazes saíssem, no mínimo, transtornados, desequilibrados, doentes ou com alguma séria dificuldade. Não que isso seja esperar pelo mal deles, porém ao pensar na situação por que eles passaram, talvez realmente seja isso o mínimo que poderia ocorrer após a sua saída. Mas não. Mais de dois meses em meio a uma profundidade inimaginável por muitos e, possivelmente, pelos próprios mineiros não foram poderosos o bastante para solapar a vida desses homens. Pude ver o sorriso em seus rostos, a alegria de cada um ao ver suas mulheres, filhos e amigos, a disposição tanto para ajoelhar e agradecer a Deus por estarem a salvo quanto para vibrar e fazer festa. Heróis? Prefiro, realmente, não considerá-los assim. Deixemos o domingo chegar para ouvir trocentas vezes a palavra 'heróis' na mega reportagem já previsível acerca deste fato no Fantástico. Eu os considero escolhidos. Sim, escolhidos. Trinta e três pessoas escolhidas para provar a nós que o ser humano tem um poder infindável de superar as mais adversas situações. Trinta e três pessoas escolhidas para sofrer, sofrer mais uma vez e ganhar. Trinta e três homens que estiveram lá, aonde ninguém gostaria de estar, e ressurgiram, literalmente, das cinzas quando muitos já esperavam o pior.

Que eu e você jamais esqueceremos esse acontecimento, que os mineiros chilenos, certamente, ocuparão as páginas dos futuros livros de História e que o mundo inteiro se sensibilizou frente a uma realidade quase hollywoodiana, isso nós sabemos. Você também sabe que, a partir de agora, o marketing e a mídia vão lucrar muitas cifras com os resultados deste desastre e, daqui a pouco, você pode se deparar com um livro "Eu sobrevivi - O que os mineiros tem para contar" na vitrine da sua livraria favorita ou com muitos dos mineiros sendo disputados a tapa por entrevistas e mega documentários. Essa realidade não é nenhuma surpresa, pois não importa o que aconteça, sempre haverá uma forma de lucrar com qualquer coisa. Porém, há algo que eu não sei e, com certeza, você também não sabe: O que, de verdade, este desastre representa na vida de cada pessoa deste planeta? Será mesmo apenas superação, vontade de vencer e esperança de que tudo vai ficar bem? O que isso representa pra você? Aonde isso te toca? Fatos como este não ocorrem simplesmente por um acidente. Há algo que vai além disso tudo, muito além.

Pensar nisso não é perda de tempo. Há quem ache não ter nada a ver com isso, eu sei. Entretanto, feliz ou infelizmente, tem sim. O que ocorreu com aquele grupo de escolhidos também aconteceu comigo e com você. Nós também ficamos ali naquele espaço, naquela escuridão, sem perspectiva, sem nada. Apenas com uma certeza: não ter certeza de nada. Uma tampa de metal fechou simbolicamente aquela mina, porém durante muito tempo ela ainda estará aberta nas mentes de 33 vidas de lá e de bilhões de cá.

V.B.


(e-mail para sugestões: vinicius.barrozo@yahoo.com / twitter @barrozovinicius)

Um comentário:

  1. Todo esse causo no Chile mexe com a minha latinidade.No Brasil,infelizmente a gente se esquece disso,talvez por não falarmos espanhol ou morarmos de frente pro mar-aqui no Rio-,não sei,mas a gente se esquece que estamos todos no memso barco,que a gente tem força e que não precisa puxar saco de nenhum europeu o estadunidense,porque "americanos nosotros también lo somos,y locos por tí,madre América"

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