terça-feira, 19 de outubro de 2010

Os relógios de Dali, de Cassiano e o seu.

 Quadro: Salvador Dali


Relógio

Diante da coisa tão doída
conservemo-nos serenos.

Cada minuto da vida
nunca é mais; é sempre menos.

Ser é apenas uma face
do não ser, e não do ser

Desde o instante em que se nasce,
já se começa a morrer.

                                 Cassiano Ricardo.

Começo com estas duas obras que não só chamam muito a minha atenção, como também transportam  a minha mente para um mundo completamente desprendido do qual nós vivemos. Não sei se causariam o mesmo impacto para você, porém o que importa mesmo é que isto sirva de estímulo para que as pessoas reflitam cada vez mais sobre a vida e a sua relação com o tempo.

Estava eu, habitualmente, procurando temas para produzir minhas redações quando resolvi entrar no site do Vestibular UERJ para conferir as propostas de provas anteriores. Dentre todas, uma realmente fez meus olhos arregalarem, este era o seguinte tema do vestibular 2005: "Qual a melhor fase da vida e qual a mais difícil de ser vivida?". Eu, infelizmente, não posso, daqui, olhar a sua expressão ao se deparar com isto. Se você é do grupo 'Ah! Teminha tranquilo, faço mole!', eu respeito, é claro, mas não acredito em você. Se você é daquele 'Que tema! Como vou falar sobre isso? A melhor, a mais difícil? Subjetivo demais isso', somos do mesmo grupo. Convenhamos, subjetivo é. Se eu estivesse fazendo essa prova, lá na hora do 'tudo ou nada', certamente, demoraria mais do que o normal para produzir uma redação profunda. O objetivo aqui não é falar da prova, tão pouco julgá-la se estava certo ou não expor um tema tão rico como este a um simples exame de vestibular feito por jovens que não sabem nem o que é melhor ou pior para si mesmos.

Afinal, será mesmo que há como respoder essa pergunta com total segurança? Se partirmos do pressuposto de que o que é melhor ou difícil para você pode não ser para mim, entramos numa eterna divergência. Eterna mesmo, sem hipérbole! Então não espere pela minha opinião acerca, pois sou um blogueiro iniciante, logo, não quero chocar você agora, tão pouco fazer com que você não venha mais me visitar. O que eu quero é interligar a obra de Dali, o poema de Cassiano Ricardo e a proposta da Uerj para fazer você refletir sobre isso, e se estiver a vontade, dizer o que você acha. Antes deste post, conversei com alguns amigos sobre o tema proposto para redação. A conclusão foi a ausência dela. Enquanto uns preferiram a infância como a melhor fase, outros preferiram a fase dos 30, alguns afirmaram que a juventude é a mais difícil, ou que a fase adulta é "foda", outros que a velhice, sim, é a melhor. Independente de cada opinião, uma certeza: Cada momento da vida, seja fácil ou difícil, necessita ser vivido com toda intensidade. Sim, pode parecer jargão, e é. Mas não há como negar.

Quando vejo o quadro de Dali e o texto 'Relógio', uma catarse de intertextualidade transborda na minha cabeça. Antes eu tinha uma grande dificuldade de interpretar verdadeiramente esta frase: "Viva a vida intensamente!". Pra mim era simplesmente curtir sem parar, não se limitar, viver loucamente no estilo Lady Gaga ou mesmo 'viver o lado Coca-Cola da vida' (Nossa! Este foi... deixa pra lá). Não sou contra quem vive à la Lady Gaga nem mesmo quem vive à la Coca-Cola. Mas o Relógio me ensinou mais. Sobe a página, e lê duas vezes a última estrofe. (...) E aí, entendeu? Não? Vou ajudar: EU TÔ MORRENDO E VOCÊ TAMBÉM! Não chore. Eu não chorei, mas é essa a realidade. Quanto mais o tempo passa, menos falta pra todos nós. Sempre foi assim, sempre será. Salvador Dali foi muito feliz ao compor este quadro maravilhoso porque reflete exatamente o que é a nossa vida: o Relógio de Cassiano, derrentendo e se despedaçando paulatinamente. Foi isto que me ajudou a entender melhor o sentido do viver intensamente. O relógio não para, os minutos estão passando, o tempo está passando, e não dá pra você parar e pensar 'Ah! Qual é a melhor fase da vida mesmo? E a mais difícil?'. Não pense nisso agora. Apenas siga vivendo. Pessoas muito mais velhas do que eu nunca pararam para pensar nisso, por que eu ou você o faremos? Não condeno a riqueza de tal questionamento, só acho necessário, primeiramente, viver, viver de verdade, com todas as alegrias e decepções, com todos os arrependimentos e angústias.

Não fique com medo! Vale a pena, sim, desperdiçar alguns minutos de sua vida lendo o Relógio de Cassiano ou observando o de Dali. E quanto ao que é melhor ou difícil na nossa vida? Vou viver primeiro, e se eu lembrar, será você o primeiro a saber, pode deixar. Faça o mesmo, antes que o seu relógio derreta!

V.B.




3 comentários:

  1. Gostei do seu Blog e do post, bem elaborado... seguindo, claro!

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  2. MUITO FODA o seu blog,nossa.Bem se vê que vc alia talento, criatividade e inteligência,parabéns mesmo!

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