sábado, 24 de dezembro de 2011

Carta para o Papai Noel.

Querido Papai Noel,

Neste Natal, eu poderia pedir muitas coisas que não consegui ter.
Que não consegui enxergar.
Ou razões para aquilo que não consegui entender.
Neste Natal, eu poderia pedir para nascer de novo e corrigir tantos erros
Ou, quem sabe, errar de novo.
Neste Natal, poderia pedir muito dinheiro, já que sou fraco e não resisto mesmo.
Também poderia pedir para que você resolvesse todos os perrengues que passei
E que, incrivelmente, ainda passo.
Neste Natal, poderia pedir para estar com quem já não está mais comigo.
Abraçar quem já não consigo mais abraçar.
Perdoar.
Papai Noel, neste Natal, eu poderia pedir a você aquela bicicleta que não ganhei há uns dez anos atrás.
Poderia pedir que me libertasse de todo o mal, de tudo que me vicia e não me deixa seguir em frente.
Poderia pedir alguns porquês, mas de verdade, não quero nem saber.
Poderia pedir que não eliminasse a dor do meu coração
Mas que ela conseguisse viver em harmonia com a minha alegria.
Neste Natal, poderia pedir que me fizesse acreditar mais na sua magia
E principalmente, em você.
Neste Natal,  poderia pedir tudo aquilo que o meu amiguinho tem e eu não tenho.
Poderia pedir que eu fosse menos.
Poderia pedir que eu fosse muito mais.
Poderia pedir um recomeço.
E um pouco mais de coragem.
Papai Noel, eu não vou lembrar deste Natal como um dos melhores, você bem sabe.
Este ano, tive que segurar a onda e mudar mesmo, pra valer, na marra
Ou então seria completamente engolido pelo desespero.
Mas quer saber, Papai Noel?
Neste Natal, eu só quero mesmo pedir uma coisa:
Que me ouça com muita atenção quando, apesar de tudo,
Ainda digo: OBRIGADO.

VB

domingo, 16 de outubro de 2011

O mergulho.


Sozinho. Sentado na areia, de frente para o mar bravio. Tomou coragem e mergulhou:
"O que sou agora aqui embaixo? Eu não existo. Eu vivo. Não sou mais uma criança e isso dói muito mais do que aqueles velhos machucados já cicatrizados. Dizem que cabelos brancos é sinal de velhice e esta, de experiência. Eu digo que não. Digo que não vou esperar ficar velho para me sentir experiente. Idade não enche bagagem. Sou jovem e não sei o que é esperar. Erro muito mais que acerto e já não encontro desculpas, não fujo, não posso mais colocar a culpa no irmão mais velho, na inexperiência, no "sem querer". Não tenho medo de arriscar nada. Estar aqui é prova disso. Apenas respondo por mim mesmo e isso é o mínimo que faço. Ou deveria fazer algumas vezes. Não sou mais o mesmo e não sei até que ponto isso é tão ruim. Peço socorro a mim mesmo, grito, choro, cresço em mim mesmo. Eu sou o meu melhor amigo e sem mim nada seria. Colocar-se em primeiro lugar não é egoísmo. É gostar de si mesmo. É difícil, mas estou aprendendo. As pessoas vem e vão a todo momento, e nem consigo mais acompanhar esse ritmo. Só acompanho aquelas que vem e ficam. Ficam porque me querem bem. Ficam porque me acolhem. Ficam porque sabem que esteja onde eu estiver, estarei sempre com elas. Sim, eu sei que estou mesmo longe, distante de tudo. Preciso de um tempo, de um espaço, mas não mais de um porquê. To mesmo esgotado, cansado, saturado. Enfrento uma batalha contra mim mesmo a cada dia. Pode ser que algo esteja muito errado, ou quem sabe, certo demais. Meu coração acelera.  Se eu não voltar à superfície, vou morrer. Se eu morrer, vou parar de viver e vou só existir. Não agora. Eu não existo. Eu vivo."
Subiu com uma força desconhecida e respirou o ar como nunca na vida.
Saiu dali mergulhado em si mesmo.

domingo, 10 de abril de 2011

"Alô, alô, Realengo, aquele abraço"

        Não foi fácil (acredite, ainda está sendo difícil) saber como dominar bem as palavras nesta postagem sem expressar o que estou sentindo dentro desse clima tão triste que por aqui se instaurou. Não consigo. Desde quinta-feira, já chorei, rezei, tive vontade de correr para ajudar, já me perguntei inúmeras vezes o porquê de tudo isto, assisti aos noticiários sem os olhos piscar e chorei mais.
        Não sei como dizer o que quero da melhor maneira, mas a verdade nua e crua é que morando tão perto da escola me sinto como uma das vítimas, uma daquelas crianças que lá estavam sem potencialidade diante do medo, sem definitivamente o que fazer. É exatamente assim que todos por aqui se sentem. Ando pelas ruas e percebo que as coisas mudaram mesmo. O barulho ensurdecedor dos helicópteros sobrevoando a todo momento. Tristeza nos olhos da vizinhança. Medo dos pais de deixar seus filhos na escola. Jovens e crianças que não se divertem na rua como antes e não falam de outra coisa que não seja sobre a tragédia. A vontade de cada um por aqui de apoiar sem saber como.
        Na sexta-feira, ao voltar da faculdade, passei de ônibus bem próximo da rua da escola e resolvi descer. Fui até lá e não consegui segurar a emoção tão pouco as lágrimas. Muitas homenagens, velas acesas, flores, cruzes brancas, cartas de amigos das vítimas, de pessoas desconhecidas que vieram de longe, jornalistas, câmeras, mega equipamentos das emissoras. É bem verdade que nunca fui tão apegado ao meu bairro, mas ter a absoluta certeza de que a partir de agora a palavra "massacre" estará sempre associada a ele na história do Brasil e do mundo é definitivamente uma pena. De uma forma instantânea, todos os olhos se voltaram para cá e, assim, Realengo se tornou o centro de tudo ainda que muito distante de tudo.
        O que eu desejo agora? Que Deus acolha as crianças que agora estão ao seu lado e suas famílias que agora sofrem sem elas, além disso, que Ele, mais do que nunca, abrace todo este bairro como já dizia Gilberto Gil "Alô, alô, Realengo, aquele abraço".

domingo, 27 de março de 2011

Adeus, Escher!


A hora do adeus é sempre triste. Neste domingo, o Centro Cultural Banco do Brasil fecha aquela portinha secreta dos filmes infantis que leva a um certo mundo mágico e desconhecido. Este mundo foi o de Escher.

Uma exposição impecavelmente produzida e que despertou não só em mim, mas em muitos que por ali passaram interpretações do mundo que jamais alcancei. Escher conseguiu, felizmente, fazer com que crianças se tornassem mais crianças e que jovens, adultos e idosos revivessem essa fase tão gostosa. A sua arte de brincar com o que aparentemente não existe, o ilusório, o "faz-de-conta" tirou sorrisos miúdos dos mais descrentes do que viam e gerou ainda mais perguntas sobre o que destoa o real do irreal.

Apesar de já ter escutado muito seu nome e conhecido poucas de suas obras, confesso que apenas soube quem Escher realmente é através desta exposição. Tive a oportunidade de comparecer ao CCBB duas vezes e por duas vezes saí de lá completamente alucinado. Escher conseguiu quebrar cristais de pensamento sobre a realidade, transformou mentes conservadoras e ,principalmente, provou que o mundo não deve ser interpretado só por um ponto de vista, mas vários deles. Além disso, o mundo mágico de Escher ensinou aos mais avessos que é preciso, sim, conceber e respeitar novas perspectivas e interpretações não só daquilo que nitidamente se vê como daquilo que misteriosamente não se vê.

Escher chegou no Rio para chocar. Mostrou brilhantemente que o impossível pode ser atingido tão mais que o possível. E chocou. Agora ele se despede com uma lembrança permanente em nós, e eu com uma indagação genial criada por um colega meu de faculdade (Pablo): "Como eu vivi 17 anos da minha vida sem Escher?"
É. Adeus, Escher. Volte sempre!

domingo, 13 de março de 2011

Todo recomeço é uma surpresa. Não é fácil. É bom, revigora, mas não é fácil. Da última vez que estive por aqui até hoje, alguns meses preenchem a distância. Hoje, resolvi tirar a poeira.

Um mundo de ideais passa pela minha cabeça neste momento, mas uma em especial me fez realmente estar aqui, agora. Hoje, acordei já pensando no amanhã. Resolvi ficar em casa, não fui para o Monobloco e não me arrependo por isso depois que vi as fotos no g1.com. Pensei em arrumar o meu quarto, nada. Ele continua lá, bagunçado. Hoje apenas pensei. Pensei em como será, em como não será. Pensei no que fazer, no que não fazer. Dormi de tarde, acordei com raiva pois sei que não vou conseguir dormir mais tarde. Hoje a noite será difícil. No final das contas, não estou tranquilo. Amanhã embarco numa nova aventura, num novo começo. Depois de um ano de vestibular turbulento em que o maior desejo foi "chegar lá", saber que dentro de algumas horas você estará, de verdade, lá é algo que emociona e cria ainda mais incertezas.

Expectativas são inevitáveis. Sei que nem todas serão atingidas. Amanhã, às 5h da manhã estarei de pé, firme e forte, pronto para atravessar a Baía e redesenhar minha vida, conhecer pessoas novas, viver experiências novas, crescer, amadurecer, recomeçar. Minha mãe, como toda e qualquer mãe, teme pelos trotes. Eu não. Eu quero viver isso, quero sentir isso. Para que temer? O meu medo é outro. Não sei o que me espera tão pouco o que esperar, afinal, todo recomeço é uma surpresa.