domingo, 10 de abril de 2011

"Alô, alô, Realengo, aquele abraço"

        Não foi fácil (acredite, ainda está sendo difícil) saber como dominar bem as palavras nesta postagem sem expressar o que estou sentindo dentro desse clima tão triste que por aqui se instaurou. Não consigo. Desde quinta-feira, já chorei, rezei, tive vontade de correr para ajudar, já me perguntei inúmeras vezes o porquê de tudo isto, assisti aos noticiários sem os olhos piscar e chorei mais.
        Não sei como dizer o que quero da melhor maneira, mas a verdade nua e crua é que morando tão perto da escola me sinto como uma das vítimas, uma daquelas crianças que lá estavam sem potencialidade diante do medo, sem definitivamente o que fazer. É exatamente assim que todos por aqui se sentem. Ando pelas ruas e percebo que as coisas mudaram mesmo. O barulho ensurdecedor dos helicópteros sobrevoando a todo momento. Tristeza nos olhos da vizinhança. Medo dos pais de deixar seus filhos na escola. Jovens e crianças que não se divertem na rua como antes e não falam de outra coisa que não seja sobre a tragédia. A vontade de cada um por aqui de apoiar sem saber como.
        Na sexta-feira, ao voltar da faculdade, passei de ônibus bem próximo da rua da escola e resolvi descer. Fui até lá e não consegui segurar a emoção tão pouco as lágrimas. Muitas homenagens, velas acesas, flores, cruzes brancas, cartas de amigos das vítimas, de pessoas desconhecidas que vieram de longe, jornalistas, câmeras, mega equipamentos das emissoras. É bem verdade que nunca fui tão apegado ao meu bairro, mas ter a absoluta certeza de que a partir de agora a palavra "massacre" estará sempre associada a ele na história do Brasil e do mundo é definitivamente uma pena. De uma forma instantânea, todos os olhos se voltaram para cá e, assim, Realengo se tornou o centro de tudo ainda que muito distante de tudo.
        O que eu desejo agora? Que Deus acolha as crianças que agora estão ao seu lado e suas famílias que agora sofrem sem elas, além disso, que Ele, mais do que nunca, abrace todo este bairro como já dizia Gilberto Gil "Alô, alô, Realengo, aquele abraço".

2 comentários:

  1. Adorei. Sabe que gosto muito do Gilberto Gil.
    Parabéns pelo blog.

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  2. Legal seu blog!gostei do post!
    postei hoje no renanatallah.blogspot.com um sobre o mesmo assunto!quando puder confira

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